ARTIGOS, ESTUDOS, PREGAÇÕES E OUTROS TEXTOS

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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Senhor, dai-me castidade e continência!

Não creio que os jovens de hoje necessitem de ânimo para "lançar-se", para "experimentar", para romper limites (tudo os empurra diretamente nesta direção com os trágicos resultados que conhecemos). Têm necessidade de que lhes sejam dadas motivações válidas, não certamente a temer seu corpo e o amor, mas a ter medo de destruiu um e outro.

Um determinado espetáculo do comediante Roberto Benigni que registrou uma audiência elevadíssima tratava-se, em alguns momentos, de uma lição altíssima comunicação religiosa, além de artística e literária, da que tanto teríamos de aprender os pregadores: capacidade de dar voz ao senso de eternidade do homem, a maravilha frente ao mistério, à arte, à beleza e ao simples fato de existir.

Lamentavelmente, sobre um ponto, talvez não premeditado, o comediante lançou uma mensagem que poderia ser muito perigosa para os jovens e que é preciso retificar. Para apoiar seu convite a não ter medo das paixões, a experimentar a força do amor também em seu aspecto carnal, citou uma frase de Agostinho, que diz: "Dai-me a castidade e a continência, mas não agora" [1]. Como se antes fosse preciso provar de tudo e depois, talvez já idosos, quando isso não custa esforço, praticar a castidade.

O comediante não disse até que ponto Agostinho teve de se arrepender depois de ter feito, sendo jovem, aquela pregação, e quantas lágrimas lhe custou arrancar-se da escravidão à qual havia se entregado. Não recordou a oração com a que o santo substituiu a outra, uma vez reconquistada a liberdade: "Tu me mandas que seja casto; pois bem: dai-me o que me pedes e pede-me o que quiseres" [2].

No canto do Inferno, que o comediante comentou admiravelmente, Dante brinda uma destas motivações profundas, à qual, no entanto, não se deu tanta importância. O mal é submeter a razão ao instinto, ao invés do instinto à razão. "Soube que a um tal tormento / sentenciados eram os pecadores carnais / que a razão ao desejo submeteram". O desejo tem sua função se é regulado pela razão; caso contrário, converte-se no inimigo, não no aliado do amor, levando aos crimes mais brutais dos quais as notícias recentes nos têm dado exemplos.

Mas vamos mais diretamente à nossa reflexão. A vida espiritual não se reduz certamente apenas à castidade e à pureza; no entanto, é verdade que sem elas, todo esforço em outras direções torna-se impossível. Trata-se, verdadeiramente, como chama Paulo no texto citado, de uma "arma da luz": uma condição para que a luz de Cristo difunda-se ao redor de nós e através de nós.

Hoje se tende a contrapor entre si os pecados contra a pureza e os pecados contra o próximo, e se tende a considerar verdadeiro pecado apenas aquele contra o próximo; ironiza-se, às vezes, sobre o culto excessivo dado no passado à "bela virtude". Esta atitude, em parte, é explicável; a moral havia acentuado muito unilateralmente, com anterioridade, os pecados da carne, até criar, às vezes, autênticas neuroses, em detrimento da atenção aos deveres para com o próximo e também em detrimento da própria virtude da pureza, que era, de tal maneira, empobrecida e reduzida à virtude quase só negativa, à virtude do saber dizer não.

Mas agora se passou ao excesso oposto e se tende a minimizar os pecados contra a pureza em benefício (freqüentemente só verbal) de uma atenção ao próximo. É ilusão crer que se pode harmonizar um autêntico serviço aos irmãos – que requer sempre sacrifício, altruísmo, esquecimento de si e generosidade – e uma vida pessoal desordenada, toda orientada a deleitar a si mesmo e às próprias paixões. Acaba-se, inevitavelmente, por instrumentalizar os irmãos, como se instrumentaliza o corpo. Não sabe dizer SIM aos irmãos quem não sabe dizer NÃO a si mesmo.

Uma das "desculpas" que mais contribuem a favorecer o pecado de impureza na mentalidade das pessoas e a descarregá-lo de toda responsabilidade é que não faria mal a ninguém, não violaria os direitos nem as liberdades dos demais, a menos – se diz – que se trate de violência carnal. Mas além do fato de que viola o direito fundamental de Deus de dar uma lei a suas criaturas, esta "desculpa" é falsa também com relação ao próximo. Não é verdade que o pecado de impureza permanece em quem o comete.

No Talmud judaico, lê-se uma passagem que ilustra bem a solidariedade que existe no pecado e no dano que cada pecado, inclusive pessoal, acarreta aos demais: "Algumas pessoas encontravam-se a bordo de uma barca. Uma delas tomou uma ferramenta e começou a perfurar a madeira. Os demais passageiros, ao verem, disseram: – Que fazes?. Ele respondeu: – Que vos importa? Acaso não é debaixo do meu assento que estou perfurando? Mas eles replicaram: – Sim, mas a água entrará e atingirá todos!". Não é o que está ocorrendo em nossa sociedade? Também a Igreja sabe algo do mal que se pode ocasionar a todo Corpo com os erros pessoais cometidos neste campo.

Um dos acontecimentos espirituais de maior relevância destes últimos meses foi a publicação dos "escritos pessoais" da Madre Teresa de Calcutá. O título eleito para o livro que os reúne é a palavra que Cristo dirigiu no momento de chamá-la à sua nova missão. "Come, be my light"; Venha, seja a minha luz. É uma palavra que Jesus dirige a cada um de nós e que, com a ajuda da Virgem Santíssima e a intercessão da beata de Calcutá, queremos receber com amor e procurar pôr em prática.

[1] S. Agostinho, Confissões, VIII, 5,12.
[2] S. Agostinho, Confissões, X, 29.

Fonte: Trecho da palestra do Frei Raniero Cantalamessa ao Papa Bento XVI, cardeais, bispos e superiores das ordens religiosas, na Casa Pontifícia durante o Advento de 2007.

Tradução Original: Alexandre Ribeiro. Revisão: Aline Banchier

Adaptações: Site rccjovem.com

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