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quinta-feira, 30 de abril de 2009

A vitória de Cristo

Mensagem do Cardeal D. Eugenio de Araújo Sales
Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro

O Apóstolo Paulo (Cl 1,24) nos convida a manifestar os sentimentos pascais nos seguintes termos: “Alegro-me nos sofrimentos suportados por vossa causa”. A comemoração da paixão e morte de Jesus é seguida, nas cerimônias litúrgicas, de uma grande alegria que é participada por todos os cristãos. A pedra do túmulo onde estava o Corpo do Senhor foi removida e Ele, por seu poder, ressuscitou. O pecado feriu o relacionamento filial do gênero humano com Deus. O Redentor, contudo, restabeleceu a amizade primitiva do Criador à sua criatura, embora perdurem as marcas da transgressão original, manifestadas pelo sofrimento que nos acompanha durante toda a nossa vida. A grande lição da Páscoa é a vitória da alegria sobre a dor, mesmo sem a suprimir. Essa visão transcendental é importante para cada um de nós.

São Paulo, escrevendo aos Coríntios (1Cor 15,14), salienta o valor desse domingo, no qual Cristo ressurgiu glorioso do seu sepulcro, vencedor da morte: “Se Cristo não ressuscitou, é vã nossa pregação e também vã a vossa fé”. Os discípulos de Jesus, após sua morte, encontravam-se mergulhados no atordoamento causado pelas recentes e trágicas ocorrências. Lemos no Evangelho de São João (20,19): “Estando fechadas as portas onde se achavam os discípulos por medo dos judeus”. No entanto, circulavam notícias alvissareiras entre os fiéis – sem dúvida, israelitas - afirmando que Ele havia ressurgido dos mortos, estava vivo, fora visto por vários discípulos. O episódio ocorrido com Tomé bem revela a situação da pequena comunidade. Relata ainda São João em seu Evangelho (20,25): “Se eu não vir em suas mãos o lugar dos cravos e se eu não puser meu dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não crerei”.

Nós não celebramos a Ressurreição no sábado à noite e, no domingo, a Páscoa, simplesmente como fatos históricos, mas como algo de atual. Há uma continuidade entre ontem e hoje. O pequeno grupo, apavorado, tornou-se o poderoso veículo da difusão do Evangelho. Rapidamente, a Boa Nova chegou aos confins da terra! Já no ano 63, São Paulo, escrevendo aos Filipenses (4,22) podia afirmar: “Todos os santos vos saúdam, especialmente os da casa de César”. Após tão poucas décadas da morte de Cristo, até no palácio do imperador romano havia cristãos.
Cabe uma pergunta: como aproveitar estas comemorações da vitória de Cristo sobre o pecado, em favor de nossa vida pessoal e exercício de nossa fé cristã, hoje?
O túmulo vazio é a garantia do que podemos e devemos usufruir uma profunda alegria. A vitória aí significada assegura a superação dos males e limitações que acompanham a vida de cada fiel e da comunidade eclesial. A busca de felicidade é o drama da Humanidade. Nós fomos criados por Deus e para Deus; somente n’Ele saciaremos a fome que angustia o coração humano. Procurar alhures, onde as inclinações pecaminosas se chocam com os ensinamentos do Senhor, leva-nos sempre à decepção. O proposto pelo mundo enche os ouvidos, os olhos, alimenta as paixões, mas depois de tudo, restam apenas cinzas. E a insatisfação perdura. Na realidade, vida fiel às diretrizes do Cristo, festejos religiosos ou não, desde que não firam o Evangelho, mitigam uma sede que somente na eternidade será plenamente aplacada. Quantas vezes temos ouvido essa verdade e, no entanto, o mundo continua a procurar a felicidade onde ela não se encontra. Santo Agostinho é admirável na sua observação: “Senhor, fomos criados para Vós e o nosso coração vive inquieto, até que ele repouse em vós” (“Confissões” 1,1).

Na festa da Ressurreição do Senhor, este ano, reflitamos sobre a importância da alegria e onde a encontrar. Em meio à violência, suportando o peso de tantos problemas que nos afligem, reafirmemos nossa fé cristã e nosso firme propósito de viver inteiramente a Mensagem de Jesus Ressuscitado, glorioso!
A celebração da Páscoa deve incutir em nós a certeza da vitória final de Cristo e sua obra. Quando visitei os célebres mosaicos de Ravena, o sacerdote que me explicava a extraordinária riqueza dos monumentos, despertou minha atenção para o fato de Cristo estar repetidamente representado na Cruz como vencedor. Em vez de derrotado pela morte infamante, que era a crucifixão, o artista nos faz contemplá-lo vitorioso! A glória da Ressurreição já é vislumbrada nas feições de Jesus, no alto do Gólgota. Aliás, diz André Frossard, na sua obra “L’Evangile selon Ravenne”: “Em todas as imagens desse resumo da Paixão, o Cristo está sempre revestido de seu manto de púrpura”.

Esta concepção, reproduzida nos famosos mosaicos vindos do Oriente, sugere, por ocasião da festa da Páscoa, que o Redentor, aparentemente vencido, sempre derrotará seus opositores. Tamanha certeza é de grande importância na vida de cada cristão que luta para viver sua fé, seguindo a trajetória da Igreja através dos séculos. Houve momentos no decorrer da História em que parecia se repetir o drama da condenação e da morte do Salvador. Constituindo a Comunidade Cristã o Corpo Místico de Cristo, torna-se bastante compreensível a sua participação nos sofrimentos do Senhor. Em certas épocas, o Mal parecia vencer definitivamente, ora pelas falhas internas, ora pelos ataques de fora. Em um e outro caso, era o pecado que dominava. Neste dia glorioso, a vitória de Cristo, é bom recordar que ainda hoje inimigos externos, como os sumos sacerdotes, fariseus, representantes da Roma imperial são menos perigosos e mais fáceis de serem superados que os internos e estes, como a traição de Judas, sem dúvida, são mais perniciosos, pois ferem a unidade e atingem o âmago da estrutura eclesial. Assim, acobertando as ações negativas com o nome de “discípulos de Cristo” confundem o rebanho, dificultam a aceitação dos ensinamentos eclesiais.

Muitas vezes tenho alertado para essa realidade. Entretanto, o fato de reconhecer variados e sutis ataques à obra do Senhor não nos deve induzir a uma atitude pessimista. Quem vive em intensidade a vitória de Cristo sobre a morte sente em si a paz, usufrui a alegria e irradia a esperança fundamentada em Cristo Ressuscitado.
Disponibilizado pela Arquidiocese do Rio de Janeiro

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